Os bancos possuem um papel fundamental na economia. Através deles, as pessoas cordenam seus planos para consumir ou poupar dinheiro. O que significa que, quando uma pessoa decide guardar dinheiro no banco, ela está deixando de consumir e ao mesmo tempo está permitindo que outra pessoa pegue emprestado esse dinheiro, por exemplo, para investir, ou mesmo para consumir em seu lugar. Os bancos representam os vendedores do dinheiro. Quando possuem pouco dinheiro em seus cofres, aumentam a taxa de juros para incentivar novos clientes a depositarem suas reservas. Quanto mais eles poupam, mais faturam. Supondo que muitos clientes tenham aproveitado as altas taxas de juros para poupar, e agora os cofres estejam cheios, os bancos, nesse caso, abaixam as taxas de juros para incentivar os investidores a pegarem esse dinheiro emprestado. Ou seja, os banqueiros regulariam as taxas de juros de acordo com a oferta e demanda do dinheiro disponível.
Essa coordenação é importante pois ela permite que exista uma quantia certa de bens e serviços na economia de acordo com a necessidade dos consumidores e poupadores. Caso esse equilíbrio seja enfraquecido, será muito difícil para os empreendedores entenderem qual a real demanda e qual deveria ser a oferta dos bens e serviços a serem produzidos.
Por isso os projetos dos investidores são tão influenciados pela taxa de juros -que mostra o quanto está custando o empréstimo de dinheiro- pois ela representa um sinal, uma informação de o quanto os consumidores estão poupando para consumir no futuro, ou se estão gastando todas as suas reservas agora, e não terão dinheiro para consumir quando esses projetos (investimentos) forem consolidados.
No livre mercado, a taxa de juros é representada pelo equilíbrio das finanças dos consumidores e dos poupadores. Quanto mais as pessoas poupam, mais há dinheiro disponível para ser emprestado e mais baixa é a taxa de juros. Por outro lado, quanto menos as pessoas poupam, menos dinheiro os bancos têm para emprestar para os investidores, e mais cara fica a taxa de juros.
Em uma situação de altos juros, apenas os investimentos mais necessários (que terão mercado certo, ou em outras palavras, atenderão melhor aos consumidores) serão financiados, por terem um risco menor de dar errado, já que custarão mais caro. Por exemplo, em um país pouco desenvolvido, dificilmente seus pequenos empreendedores investirão em produzir artigos de luxo para sua população, pois não haveria muitos interessados, mas investir em bens de consumo mais simples, como roupas e alimentos, seria bem mais coerente e possivel de dar certo.
Quando os juros são baixos, os empreendedores ficam mais a vontade para investir em projetos a longo prazo e possivelmente mais supérfluos ou arriscados. Com o "preço do dinheiro" baixo, há menos insegurança na economia para o investimento, pois as perdas serão menores.
Ao pegar um empréstimo no banco para financiar um projeto, o investidor não está buscando apenas o papel-moeda, mas o que ele representa. O dinheiro será usado para reformar um salão e torná-lo um restaurante, por exemplo, mas, não apenas tintas, concreto, lâmpadas novas e mesas serão adquiridas com o financiamento. Salários, para pagar os pedreiros também serão convertidos em transporte, alimentação, roupas, escolas para seus filhos e demais bens de consumo. Ou seja, quando alguém decide poupar e colocar seu dinheiro à disposição de outros, deixando de gastar, está tornando possível para outras pessoas usarem aquele dinheiro para o consumo, enquanto trabalham no projeto (investimento) de uma terceira pessoa. Assim funciona o equilíbrio em um mercado livre.
Porém, não vivemos em um sistema de livre mercado.
No sistema centralizado e conduzido pelo Banco Central, o mais comum no mundo, perdem-se os sinais que avisam aos empreendedores quando há equilíbrio entre poupadores e consumidores.
Os bancos centrais controlam as taxas de juros abaixando-as artificialmente para estimular a economia, principalmente através da emissão de dinheiro. Obviamente, o resultado disso é uma expansão econômica.
O que acontece é que os bancos emprestam mais, e como os juros estão baixos, os empreendedores fazem projetos mais arriscados. Esse processo acaba incentivando maus investimentos, pois são baseados em informações (taxa de juros) irreais, já que aquele dinheiro emprestado para projetos não representa mais uma poupança prévia. O que quer dizer que uma pessoa não está deixando de consumir para outra fazê-lo, mas existe dinheiro a mais na economia, que estimula mais pessoas a consumirem sem precisarem poupar, ou seja, mais pessoas consumindo ao mesmo tempo. O nome disso é sobre-consumo, definido pelo economista Ludwig von Mises. Os projetos iniciados sob essas condições tendem a fracassar.
Por exemplo, se um empresário inicia uma obra acreditando que possui uma quantidade de material disponível para executá-la, quando na verdade essa é uma impressão causada pela falsa expansão econômica (pois o dinheiro não representa de fato uma produção prévia), seu projeto pode estar destinado a enfrentar uma escassez de material, o que no mínimo, encarecerá os custos de execução e atrapalhará os planos do investidor; que atrasará os salários dos funcionários envolvidos, que diminuirá o poder de compra deles e uma sucessão de imprevistos que prejudicarão a economia como um todo. Imagine isso em grande escala.
Sob juros abaixados artificialmente, muitos empréstimos são concedidos, excedendo a quantidade real de poupança na economia. Esses projetos criados a partir de empréstimos de dinheiro não correspondente às poupanças, estão mais suscetíveis ao fracasso. Afinal, as taxas de juros servem como um importante sinal para os negócios, pois mostram se as pessoas estão poupando hoje, para gastar no futuro -e então valeria a pena investir- pois haverá consumidores amanha; ou se não estão poupando, então a taxa seria alta, e indicaria que não está valendo investir em algo que possivelmente não trará retorno no futuro, pois as pessoas preferiram não poupar. No momento em que as taxas são abaixadas artificialmente, mais projetos se iniciarão, mais pessoas serão contratadas, mas, sob falsos pretextos. Quando concluídos, os empresários perceberão que seus investimentos não são lucrativos, pois os consumidores deixaram de poupar no passado. Agora haverá demissões, pois os projetos não são sustentáveis, não geram receita. A economia esfria e começa a entrar em crise em alguns setores por causa da expansão artificial. Essas pequenas crises são evitadas pelo Banco Central através de nova baixa na taxa de juros e de nova emissão de dinheiro para aquecer a economia. Isso tornará a crise que está por vir ainda maior, e em larga escala, chamada de recessão.
Gostei muito do que vc disse, direto,claro, e até quem é leigo no assunto pode compreender sem se perder no seu texto, parabéns.
ResponderExcluirParabéns, Mônica.
ResponderExcluirParabéns, Mônica. Muito interessante e esclarecedor.
ResponderExcluirCara, legal o texto. Eu sou formado em História pela UFPB, um dos poucos ex-esquerdistas formados em um curso de Humanas do Brasil, provavelmente, kkkkk, então eu me identifico muito com esse posicionamento e esse conteúdo. Mas, eu acrescentaria uma coisa. Sobre a questão dos créditos subsidiados para baixar artificialmente os juros: OK, o consumo, emprego e a renda aumentam de uma maneira que pode enganar a população, como se estivesse tudo bem, daí vem a recessão, mostrando que aquele crescimento anterior havia sido artificial. Quando um empresário de uma fábrica de carros, por exemplo, recebe esse crédito subsidiado, cria-se empregos, renda, aumenta o PIB (naquele momento específico), mas acontece que os seus clientes não receberam também o dinheiro a mais que a empresa recebeu, então o seu novo empreendimento não pode ser sustentado; como você explicou, isso em grande escala gera recessão, desemprego. E por que o governo não dá dinheiro também para os seus clientes? Simples: não há como o governo saber quem são os clientes de hoje, os clientes de amanhã, porque isso muda muito. Esse é só um ponto em que gostaria de acrescentar. Mas, tem um outro ponto fundamental: inflação. O que seria isso? Seria o aumento da quantidade de dinheiro em circulação. Aumento de preços não é inflação, senão sua consequência inexorável. Quando o governo decide vir com a história de crédito subsidiado com o argumento de diminuir os juros, melhorar a vida das pessoas, melhorar a infraestrutura, o Banco Central deve criar mais dinheiro, o que é péssimo (está relacionado com a falta de valorização dos poupadores)! Então, além da d´vida pública, cria-se inflação. Percebe que o ciclo econômico se encaixou perfeitamente na conjuntura do Brasil? Porque a inflação é um processo: o aumento da quantidade de dinheiro não gera o aumento de preços imediatamente. Primeiramente, uma empresa recebe um dinheiro a mais, um nova unidade da empresa pode surgir, um restaurante por perto da nova unidade vai ser beneficiada, com o novo contingente de endinheirados que vão frequentar o seu estabelecimento, mas o aumento de preços vem logo em seguida, porque houve um desequilíbrio entre a demanda e a oferta, que são equilibradas quando o aumento de preços ocorre. Então, as outras pessoas que já frequentavam aquele restaurante serão prejudicadas com o aumento de preço que ocorre. Isso em grande em escala se trata de um aumento de preços generalizado. Quem mais se lasca, lógico, é o mais pobre. Qualquer semelhança com a situação do Brasil atual de aumento de preços generalizado (inflação bastante alta no momento) e dívida pública bastante elevada para juros bem altos, não é mera coincidência. O período Lula foi o início desse ciclo econômico, enquanto que a parte ruim do ciclo sobrou para Dilma. Explicando de uma maneira mais informal: não adianta se enganar com o período Lula analisando os números de seu período como se estivesse pegando-os com uma pinça, sem analisar toda a conjectura, como se tivesse sido um período de "alegria" verdadeira, bem superior ao período de Dilma. Não. Foi alegre, mas o país bebeu muito álcool no período, estava alegre como um bêbado, e agora sofre a ressaca (a recessão do fim do ciclo). No mais, seu texto é bem legal! Parabéns!
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