quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Salário mínimo

Três descidinhas no feed e:
--"Novo salário mínimo deve injetar R$57 bi na economia";
--"Walmart inicia fechamento de 30 lojas no país"; e
--"Um terço da desigualdade de renda vem da ação do governo".
Nessa ordem.

Não tem segredo, da mesma forma que o Mercado funciona, também funciona o mercado de trabalho: regulado pelos preços.
O aumento do salário mínimo, imediata e superficialmente, causa a sensação de que o trabalhador menos qualificado ganhará um pouco mais, portanto, terá mais dinheiro para consumir ou poupar, o que aquecerá a economia. O raciocínio pode estar precipitado.

Assim como na inflação deixamos de comprar nossos pequenos luxos no mercado (trocamos o peito de peru por presunto, o sabonete líquido pelo de barra e o filé mignon pelo patinho), as empresas deixarão de contratar os "funcionários luxo" para manter o mais necessários.
-Então você está dizendo que os funcionários mais caros deixarão de ser contratados?

Pelo contrário. Estamos acostumados a associar o "luxo" aos bens mais caros e valiosos  (como no exemplo que dei das compras do mercado), porém, a idéia que realmente queremos passar quando usamos o termo, é a de superficialidade, quase um mimo; portanto, facilmente descartável. Ao ser imposto o salário mínimo, aqueles empregos menos necessários e qualificados tenderão a sumir (e mais gente entrará no trabalho informal). É o caso dos manobristas em condomínios e shoppings, das cozinheiras, passadeiras, lanterninhas de cinema e office boys. Não faz sentido para micro, pequenas e médias empresas pagarem R$800, mais esse valor em impostos e benefícios (quase $1600) para contratar um entregador de correspondência nas mesas; acaba sendo preferível colocar uma caixa de correios e deixar que cada um pegue o seu. O mesmo acontece com os carregadores de compras nos mercados, um serviço de 'luxo' para ajudar principalmente a idosos e mulheres que fazem grandes compras, hoje não existe mais.

O que se precisa entender é: o salário mínimo não prejudicará  tanto os empregos mais bem pagos, pois eles são muito mais necessários para o funcionamento do negócio (o próprio valor de seus salários explicita isso), mas causará demissões principalmente de pessoas menos qualificadas. A mesma lei que descreve o aumento do salário mínimo da noite para o dia, não aumenta a verba disponível para salários na mesma velocidade. A solução é necessariamente a demissão e o corte de gastos.

Apesar de trágicas, as demissões não são o único aspecto do ônus do salário mínimo.
Já reparou como a ideia de primeiro emprego assusta? Você sabe que não tem experiência e precisa passar por inúmeras entrevistas. O que eles vão me cobrar e... onde eu tiro minha carteira de trabalho?
É uma fase de insegurança e até depressão para muitos de nós.
Os empregos mais simples e mais baratos são a porta de entrada dos jovens sem experiência e com tempo livre para a vida profissional; mas eles têm sumido. O mercado respira, e você precisa entrar no organismo para saber como ele realmente funciona, para se especializar, treinar seu comportamento e postura, aprender a agradar e se posicionar firmemente quando preciso. Muito se engana o jovem que desacredita na importância da personalidade profissional, que só é desenvolvida e afinada com a experiência.

Mas é justo que uma pessoa tenha que sustentar toda uma família com R$800?
Os salários baixos existem para dar oportunidades para quem precisa e não está tão preparado, para serviços facilmente substituíveis, ou para vagas com muita oferta, não são pensados para o sustento de famílias. Se cada salário for planejado para sustentar 4 pessoas, teríamos pelo menos dois pontos para refletir: Por que o governo simplesmente não aumenta o mínimo para R$3.000? E, quem pagaria R$3.000 mais benefícios e impostos (em torno de R$6.000 no total) por um cuidador de idosos, pela moça que aperta os botões no elevador, ou pelo rapaz que confere tickets no cinema? 

O fechamento das 30 lojas do Walmart no final de dezembro e início de janeiro está acontecendo juntamente com o aumento do salário mínimo por coincidência? Pode ser que esse seja um dos fatores decisivos.
-Vale lembrar que ao fechar um mercado, quase a totalidade dos empregos perdidos são de mão-de-obra não qualificada (caixas, empacotadores, carregadores, repositores e pessoal da limpeza).

O salário mínimo pode excluir do mercado de trabalho formal pessoas que mais necessitam de empregos simples e elitiza cada vez mais o mercado de oportunidades, essa é a verdade.
O aperfeiçoamento da mão de obra é sim louvável (ou alguém ousa dizer que preferiria retomar a profissão de limpador de penicos em vez de utilizar uma privada automática?), mas quando feito por meio da canetada (top down), em vez de ser gradual, acompanhar o avanço tecnológico e cultural, ele tende a ser taxativo e agressivo, extinguindo empregos sem deixar que se desenvolvam naturalmente profissões mais modernas e adaptadas antes dele. O resultado são imensos aglomerados de desempregados sem perspectiva e frustrados por não se encaixarem adequadamente no organismo mais vivo, indomável e inescapável da nossa sociedade: a economia. Os resultados, vemos nos jornais: aumento da criminalidade e maior desigualdade econômica.

-Menos jovens empregados, que poderão acabar optando pelo crime; mais adultos obsoletos; aumento geral dos preços (quanto maiores os salários, mais caros ficam os produtos, pois aumenta-se o poder de compra de quem está inserido nos dados oficiais) enquanto o desemprego cresce; e o inevitável aumento da disparidade social.

No mosaico econômico e cultural brasileiro, o bordão deveria ser inquestionável: Variedade, quanto mais, melhor.  Mais variedade de salários, para atender a todo tipo de necessidade (em vez de um salário mínimo para padronizar todos os mais necessitados) e mais variedade de empregos, para empregar mais gente e atender a quem precisa de serviços especiais.

O salário mínimo no modelo brasileiro é ato de benevolência à população? Não poderia concordar menos. 

Voltando...
Agora que falei o que me veio à cabeça quando li aquele combo de notícias:
-Um terço da desigualdade? Ah, conta outra!


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Notícias:
-http://m.folha.uol.com.br/mercado/2015/12/1724262-novo-salario-minimo-vai-injetar-r-57-bi-na-economia-diz-dieese.shtml?mobile
-http://exame2.com.br/mobile/negocios/noticias/walmart-aproveita-virada-do-ano-para-iniciar-fechamento-de-30-lojas-no-pais
-http://exame2.com.br/mobile/revista-exame/noticias/e-o-estado-piora-esta-diferenca

Sugestão de leitura:
-http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=92
-http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=227
-http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=680
-http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=339

Vídeo:
-https://youtu.be/cDH4oZWN5hY